terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aforismos 423 e 424 - Aurora


Reunião do dia 15 de Junho de 2012

Aforismo 423 – Dentro do grande silêncio

Nesse aforismo Nietzsche, que se encontrava na Itália, já apresenta de forma marcante o espírito de Zaratustra, inclusive na própria linguagem com exclamações bastante significativas, formando uma bela escrita.
No capítulo V nosso filósofo traz a nova paixão, a paixão pelo conhecimento. Na sequência, em A Gaia Ciência fica clara essa nova paixão, não sendo uma ciência fria e dura, mas sim uma ciência jovial e alegre, que deve ser vista de um ponto muito mais estético. Posteriormente, Nietzsche terá a visão do que nomina como “Eterno Retorno” e é em Aurora que ele se prepara para tal vislumbre.
Já no início do aforismo podemos perceber a referência que Nietzsche faz ao mar, como já vimos anteriormente em nossas reuniões o que significava para ele tal cenário, no caso, a buscar por novos caminhos, o descobrimento de novas auroras. “Aqui está o mar, aqui podemos esquecer a cidade.” Logo em seguida ele cita os sinos da igreja, vale a reflexão de que Nietzsche conhece bem tal sinfonia, sendo uma recordação de sua infância uma vez tendo morado até os 5 anos em uma sacristia juntamente com o pai que era pastor. “Os sinos ainda tocam neste momento a Ave Maria – esse ruído sombrio e tolo, porém doce, no cruzamento do dia com a noite –, mas apenas por mais um instante! Agora tudo se cala!”. 
Buscando o texto no original podemos notar o jogo de palavras que o filósofo faz, sendo de um alemão muito polido e bonito.
Nietzsche está aqui dentro do grande silêncio, posição essa que ele acreditava ser fundamental para qualquer filósofo, pois só assim conseguiriam se distanciar das situações rotineiras e olhar com mais fidelidade para elas.
Mesmo não sendo um romântico Nietzsche, nesse momento, quer dialogar com a natureza, quer encontrar na natureza o silêncio de que precisa para encontrar os novos caminhos que vem buscado.
Quem tem a experiência do sublime, não fala. O silêncio representa a profundidade de tal sentimento e qualquer palavra que seja usada o macularia. A imagem escolhida representa tal experiência, intitulada “Paulo Afonso Falls”, a pintura está datada de 1850 e é obra de E. F. Schute, pertencente ao MASP.

Nosso filósofo teme o avanço das cidades e com esse aforismo reafirma que o espírito livre deve buscar o silêncio que a natureza proporciona e não se deixar contaminar pelo rebanho, por essa industrialização, por esse modo de vida inquieta, por essa inquieta Europa.

Ah, faz-se ainda mais silêncio, e novamente se inflama o meu coração: apavora-se ante uma nova verdade.” Será aqui o eterno retorno essa nova verdade?

Lembrando que esse é um momento extremamente feliz na vida de Nietzsche, em Aurora A Gaia Ciência, ele vive um sentimento de renascer além de estar muito esperançoso com sua filosofia, por isso que Aurora é um prenuncio para algo muito maior. 

Aforismo 424 – Pra que existe a verdade

A temática aqui está voltada para a questão do erro, suas causas e consequências. Nietzsche aponta o erro como uma poderosa ferramenta consoladora e escreve: “Até o momento, os erros foram os poderes consoladores: agora, espera-se o mesmo efeito das verdades reconhecidas, e espera-se já há algum tempo. E se as verdades não fossem capazes justamente disso – consolar?.”. Também fica claro sua posição perante o vinculo religião e erros, sendo a religião justamente a santificação dos erros.
Podemos notar a posição de nosso filósofo quando se refere à nossa forma de sentir, de pensar e de agir, dizendo que tais ações estão condicionadas à esses erros. Por outro lado, a ciência mostrou que esse mundo, que nos diz respeito, é um mundo falso, sendo ela incapaz de oferecer remédio para os males dos erros. É exatamente este o motivo pelo qual os doentes entenderão que esta ciência é uma maldição.
"Mas outrora havia tal convicção de que o ser humano era a finalidade da natureza, que se supunha, sem hesitação, que também o conhecimento nada poderia descobrir que não fosse útil e saudável para o homem, sim, não poderia haver, não era lícito que houvesse outras coisas. – Talvez disso resulte a tese de que a verdade, como um todo coerente existe apenas para as almas simultaneamente poderosas e inofensivas, jubilosas e pacíficas (como foi a de Aristóteles), e de que apenas estas serão capazes de buscá-las: pois as outras buscam remédios para si, ainda que pensem muito orgulhosamente do seu intelecto e a liberdade deste – elas não buscam a verdade."