terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aforismo 429 - Aurora


Reunião do dia 22 de Junho de 2012

Aforismo 429 – A nova paixão


Tema que já foi tratado no aforismo 424, aqui Nietzsche vai tornar a falar acerca da paixão pelo conhecimento, pontuando da seguinte maneira:


"Porque tememos e odiamos um possível retorno à barbárie? Porque ela tornaria os homens mais infelizes do que são? Ah, não! Em todos os tempos os bárbaros tiveram mais felicidade, não nos enganemos.".

Traço marcante de nosso filósofo é ir contra a legitimação de uma linha de pensamento vigente, trazendo de forma ácida e muito bem colocada um ponto de vista que até então não havia sido expressado. Voltando-se para as bases do problema, buscando entender a semente que gerou o fruto “ruim”, Nietzsche questiona o que não haviam questionado até então, faz perguntas que não haviam feito anteriormente e se posiciona de maneira nova (para sua época) e intrigante.

No decorrer do debate conseguimos formar duas interpretações diferentes para o que Nietzsche está nos trazendo, porém, um ponto em comum nas duas análises é de que existe uma forte tensão entre a barbárie e a paixão do conhecimento, isso fica claro no decorrer da leitura, portanto, ambos os raciocínios partem desse princípio em comum. Buscaremos expor as duas interpretações no decorrer deste resumo.


Um dos pontos mais importantes e divergentes do debate foi à questão da barbárie, para ela possuímos duas análises, uma tomando a barbárie em um sentido histórico e outro como imagem.


"Mas nosso impulso ao conhecimento é demasiado forte para que ainda possamos estimar a felicidade sem conhecimento, ou a felicidade de uma forte e firme ilusão; apenas imaginar esse estado é doloroso para nós!".


Uma das interpretações possíveis para tal colocação é a de que os bárbaros não eram dotados dessa paixão pelo conhecimento, ou seja, repousavam sobre uma “forte e firme ilusão” acerca da felicidade, logo, afastavam questionamentos desconfortáveis, questionamentos estes que surgiam através da paixão pelo conhecimento. Levando em conta que tal interpretação visa à análise do que seria “o bárbaro” em um sentido histórico.


Já a segunda interpretação enxerga “o bárbaro” como uma imagem, ou seja, a imagem de uma barbárie enquanto um tempo em que os ânimos se encontram mais inflados, justamente pela ilusão já narrada, e não necessariamente em um sentido histórico. Vale pontuar que sempre existiu uma tensão entre o aquecimento e o esfriamento dessa tensão, o aquecimento excessivo gera um problema assim como o esfriamento em demasia.


Ambas as interpretações concordam que a paixão pelo conhecimento estaria vinculada com o Iluminismo.

Outro ponto onde encontramos duas interpretações se dá com a seguinte passagem:


"Sim, odiamos a barbárie  preferimos todos o fim da humanidade ao retrocesso do conhecimento! E, afinal: se a humanidade não perecer de uma paixão, perecerá de uma fraqueza: o que é preferível? Eis a questão principal. Queremos para ela um final em luz ou em areia?  ".

A primeira interpretação afirma que o perecimento através da luz seria consequência da paixão do conhecimento, uma vez que ela resultaria na implosão da figura de Deus, gerando uma sensação de vazio dentro do ser humano. Vale lembrar que futuramente Nietzsche trará a morte de Deus de forma mais concreta em suas obras. Já o perecimento em areia seria, no caso, a fraqueza do homem em não enfrentar tal ilusão e seguir adiante com essa paixão pelo conhecimento, o que leva a crer que o ser humano não tem o poder de dominar ou manipular suas paixões (novamente percebe-se aqui um possível diálogo com os moralistas franceses).


Para a segunda interpretação fica nítido o pessimismo nas palavras de Nietzsche, uma vez ele deixar claro que a humanidade pereça de uma forma ou de outra, o que parece bater de frente com a proposta de Aurora, levando em conta que se espera um novo tempo, novas auroras, no entanto enxerga o perecimento inevitável. A divergência com a primeira interpretação se mostra também com relação paixão/fraqueza. Que fraqueza seria essa se não uma paixão? Uma vez sendo o conhecimento a nova paixão.
Finalizo o resumo desse aforismo com outras duas passagens:

"A inquietude de descobrir e solucionar tornou-se tão atraente e imprescindível para nós como o amor infeliz para aquele que ama: o qual ele não trocaria jamais pelo estado de indiferença;  sim, talvez nós também sejamos amantes infelizes! O conhecimento em nós transformou-se em paixão que não vacila ante nenhum sacrifício e nada teme, no fundo, senão a sua própria extinção.".


"E talvez até a humanidade pereça devido a essa paixão do conhecimento!  mas nem este pensamento influi sobre nós! O cristianismo se atemorizou alguma vez ante um pensamento assim? Não são irmãos o amor e a morte?"


Vale ressaltar que Nietzsche fala muito em nós, "nosso impulso ao conhecimento", porém é importante colocar que essa é a paixão do conhecimento dos espíritos livres.