sexta-feira, 18 de maio de 2012

Aforismos 173 e 179 - Livro III

Reunião do dia 11 de Maio de 2012

Aforismo 173 - Os apologistas do trabalho

Não é por acaso que Nietzsche é um dos filósofos mais lidos da contemporaneidade e tal fato se faz compreensível devido a sua forma ácida e crítica de pensar, narrada através de seus livros. No aforismo 173, Os apologistas do trabalho, ele não trai sua fama, aqui, novamente, ele trás a tona um tema que pode facilmente ser debatido nos dias de hoje.. a glorificação do trabalho. Através de um processo histórico uma inversão de valores é notável, o ócio que antes era tido como benefício hoje é visto como algo prejudicial ou negativo, basta olharmos para o passado para notar tal distinção. Para que possam melhor visualizar tal ideia busquem a memória a Grécia antiga. Em que momento então ocorre essa inversão? Historicamente isso se dá através da revolução industrial, na primeira metade do século XIX, porém a Alemanha, terra de nosso filósofo, é um pouco tardia nesse aspecto, lá essa inversão ocorre na segunda metade do século XIX, que é a época de Nietzsche e ele estava atento para essas mudanças, podendo perceber com grande sutileza tal inversão de valoração moral, onde o trabalho passou a ser considerado como algo grandioso e glorificador, quanto mais um homem trabalha mais honrado ele é, o trabalhar era (já em sua época) tido como uma "benção". Porém, qual é o real papel do trabalho? Para nosso filósofo o trabalho é ferramenta de cegueira, impossibilitando os indivíduos de possuírem autonomia refletiva, mas ele não para por ai, além de tratar sobre essa impossibilidade ele narra a dificuldade na criação artística e intelectual. Esse tema não é novo, no jovem Nietzsche já vemos reflexões acerca da criação do gênio e definitivamente ele não acreditava que o trabalho colaborava para isso, muito pelo contrário, o ócio é necessário para o ato de reflexão e criação. Como podemos depois de trabalhar 12 horas por dia chegar em nossas casas e ainda ter tempo para apreciar uma sinfonia de Beethoven, por exemplo?

Para tratar um pouco mais a questão do gênio trago como indicação de leitura um texto da professora Rosa Dias, O Gênio e a Música em Humano, demasiado humano. Basta clicar nas palavras destacadas.

Qual seria a consequência de tal postura? O que acarreta ao homem essa laboriosidade moderna? O que podemos ver hoje nitidamente é um perfil de trabalhadores compulsivos, ou workaholic, onde o trabalho é tido como algo que enobrece, Nietzsche aponta isso como uma valoração moral e coloca sua posição como um anticapitalismo romântico, valorizando o ócio para a criação filosófica e artística, pois de acordo com ele é impossível surgirem filósofos, gênios e criadores uma vez o indivíduo enredado nessa visão social de que o trabalho é não só algo necessário como trivial para a vida, pois tal atividade consume muita energia nervosa e não há tempo para reflexões. Pode-se notar uma perspectiva nobre na visão do filósofo e ele narra também a perspectiva da modernidade espelhada pelos apologistas do trabalho que se dá não apenas na tradição luterana e moral, mas também com os próprios socialistas, onde o trabalho é colocado como categoria central para a emancipação do homem, Nietzsche então coloca, "terá mais segurança uma sociedade que trabalha duramente: e hoje se adora a segurança como a divindade suprema." O homem moderno quer a segurança acima de tudo e o trabalho organizado e bem estruturado propõe esse sentimento de segurança e bem estar social, porém a situação moderna é que os trabalhadores passam a exigir seus direito "E então! Que horror! Precisamente o "trabalho tornou-se um perigo! Pululam os "indivíduos perigosos! E por trás deles o perigo maior - o indivíduo!".
Aforismo 179 - O mínimo de Estado possível!

Tomemos o resumo acima como pressuposto para o que vamos tratar nesse aforismo. Aqui Nietzsche segue a mesma linha crítica que vimos no aforismo estudando anteriormente, e escreve: “Nenhuma situação política e econômica merece que justamente os mais talentosos espíritos se ocupem dela.”.
Mais adiante no mesmo aforismo podemos ver novamente a referência que faz ao sentimento de segurança que tal a situação narrada no resumo acima gera nos indivíduos: “O preço que se paga pela “segurança geral” é muito alto: e, o que é mais insano, com isso produz-se o oposto da segurança geral.”.
Conclui com as seguintes colocações: “Tornar a sociedade a prova de ladrões e de incêndio e infinitamente cômoda para qualquer trato e troca, e transformar o Estado numa espécie de providência, no bom e no mau sentido – estes são objetivos baixos, moderados e nada imprescindíveis, que não se deveria buscar como os mais altos meios e instrumentos que existem – os meios que se deveria guardar para os mais altos e raros fins! Nossa época, embora fale tanto de economia, é esbanjadora: esbanja o que é mais precioso, o espírito.”.
Faz-se a reflexão, será a contemporaneidade diferente da época de nosso filósofo?

Indicação de leitura:



Leituras necessárias para o encontro do dia 18 de Maio:
Livro III:
Aforismo 184 - O Estado como produto dos anarquistas.
Aforismo 189 - A grande política.
Aforismo 207 - Atitude dos alemães ante a moral.