domingo, 8 de abril de 2012

Prefácio, Aforismos 9 e 14 - Livro I.

A leitura dos prefácios de Nietzsche se torna necessária e relevante devido a já madura observação do próprio filósofo para com sua produção, ele demonstra uma compreensão maior do que havia tratado anteriormente e norteia seus pensamentos futuros, no caso de Aurora ele fala primeiro de sua profunda suspeita na moral e em seguida da procedência das noções de bem e mal.

Prefácio: Já nas primeiras páginas podemos perceber que sua crítica maior está voltada para a cultura ocidental, onde a partir da ascensão do cristianismo algo de novo ocorre na história, ela faz o que até então nenhuma outra cultura havia feito, apontando o fundamento do bem e do mal em um único Deus, um Deus universal, pois até então cada povo havia tido seu próprio Deus. Para ele essa ascensão se dá através da combinação de duas lógicas no ocidente, por um lado o judaísmo e por outro as ideias platônicas gregas e foi o apóstolo Paulo de Tarso o primeiro a dar fundamento ao que se desenvolveu depois. Essas noções de bem e mal geraram um código moral e esse código ganha corpo e força universal.
A dominação do pensamento e da moral cristã perpassa cerca de 1500 anos e é a partir da Reforma que essa igreja começa a perder força, todavia esse código moral permanece forte e ditando as normas de toda uma sociedade, em contra partida a natureza mostra constantemente que a vida é imoral. O filósofo percebe então que esse fundamento último da moral não existia mais.
Uma vez demolido os pilares cristãos da moralidade, Nietzsche se depara com seu problema central: qual é a tarefa do filósofo imoralista no movimento da autossupressão da moral? 

Aforismo 9 - Conceito da moralidade dos costumes: Nietzsche vai tratar da moral que salta dos costumes, fazendo referência a dois tipos de moral, a moral do rebanho e a dos espíritos solitários; já em Humano, demasiado humano o filósofo define o que pra ele seria o espírito livre e o espírito cativo, aqui ele retoma esses conceitos.

“... a moralidade não é outra coisa (e, portanto, não mais!) do que obediência a costumes, não importa quais sejam; mas costumes são a maneira tradicional de agir e avaliar. Em coisas nas quais nenhuma tradição manda não existe moralidade; e quanto menos a vida é determinada pela tradição, tanto menor é o círculo da moralidade. O homem livre é não moral, porque em tudo quer depender de si, não de uma tradição: em todos os estados originais da humanidade, “mau” significa o mesmo que “individual”, “livre”, “arbitrário”, “inusitado”, “inaudito”, “imprevisível”.”

Aforismo 14 - Significação da loucura na história da moralidade: 
"Enquanto hoje sempre nos dão a entender que ao gênio não foi dado um grão de sal, mas o tempero da loucura, todos os homens de outrora tendiam a crer que onde houver loucura haverá também um grão de gênio e de sabedoria - algo "divino", como sussurravam."

Leituras necessárias para o próximo encontro
Aforismo 18 - A moral do sofrimento voluntário. 
Aforismo 26 - Os animais e a moral.

Indicação de leitura:
Para melhor compreender a auto-supressão da moral recomendamos a leitura do livro do Osvaldo Giacóia Junior: Labirintos da Alma: Nietzsche e a auto-supressão da moral. São Paulo: Editora UNICAMP, 1997.